15/04/2011

RAIZ


                                                                                                                                                     





  Como em toda ação uma reação, em cada espelho um reflexo e em todo meio um resultado; por essas razões – posso dizer afirmações - sou levada a deixar algo escrito, refletido aqui:
   De fato, estarrecedor, aterrorizante, tenebroso, horrível. São muitos os adjetivos que podemos empregar ao que aconteceu nessa quinta que passou.  Muitas também são as especulações.
   Infelizmente e mais uma vez, precisamos esperar a doença se manifestar por completo para depois preveni-la – justo um país em excelente posição na produção de vacinas; amarga ironia – Depois de um plebiscito com confusa formulação de frase interrogativa, que adquire mais de 60% favoráveis ao porte legal de arma de fogo, volta-se atrás apenas depois de uma chacina como a ocorrida em Realengo para ver se a dor na consciência é amenizada?! Deve ser esse o principal motivo, porque a ilegalidade existe e ela não vai se extinguir pelo fato de termos as leis, ou novas leis ou leis reformuladas; enfim, não programei esse mérito pra esse texto, o cerne da questão é outro.
   Ao contrário do que se pensa, casos assim não serão sanados com segurança reforçada, essa segurança idealizada e absolutamente funcional, que depende sempre de uma mente sã pra fazê-la funcionar.  Sendo mais clara; essa segurança almejada depende também do lado que a faz existir: do bandido, do ladrão, do lado oposto à vítima, afinal, você precisa saber de quem você se defende. Mas quando não se sabe contra quem ou contra o que é essa defesa, torna-se absolutamente inválida qualquer tipo de segurança.  
  Então, contra quem nos defendemos?  Pedimos PAZ pra quem?  A solução é realmente a segurança?  Ok, a segurança psicológica – a sensação de se sentir seguro -, mas e a integridade física? E seus filhos, seus amigos, sua família?
  Quando se fala de valores invertidos, papéis distorcidos, não dão a devida importância; é papo careta e coisa obsoleta, afinal, vivemos em tempos modernos, novas diretrizes e novos pensamentos. De fato, a sociedade muda ao longo dos anos e quase que de maneira arbitrária devemos acompanha-lá, caso contrário ficamos literalmente para trás e ninguém quer isso. Com base nesse simples fato é que é correto afirmar que somos reflexo de uma sociedade, sociedade esta; mutável, que troca seus valores, inverte seus papéis e renova suas idéias.
   ‘Refletimos o meio que vivemos’; com tantas pesquisas fica irrevogável contrariar a afirmação. E que meio é esse, onde escolas passam a ser cena de crime, pra ser exata; de chacina e cena de pura violência onde se travam brigas por motivos estúpidos e as grava-se por mero prazer – ou momento insano -? Um ambiente que como se sabe, existe para formar crianças, futuros pensadores, obviamente educá-las – pensei em escrever agora todo o papel de uma escola, mas é obvio e inútil ao passo que já se sabe a teoria, mas na prática não tem efeito – Em suma, uma escola tem esse poder que lhe cabe a Educação. Chegamos à seguinte questão: A criança quem educa são os pais ou a escola? Outro assunto que dá pano pra manga é esse de família e escola. A verdade é que um complementa o outro, ambos tem papel fundamental na formação do indivíduo. Mas a escola, nesses tempos modernos em que vivemos, tem o papel principal, seria sim, ela, a estrela na educação; afinal a criança de hoje passa a maior parte de seu tempo com os educadores, seus professores e colegas do que com seus próprios pais, familiares ou responsáveis. Lembrando que isso não descarta e sequer reduz a importância da família na formação de um indivíduo.
  Bem, sem fugir às regras de ação e reação, vos escrevo realmente devido à repercussão da chacina na escola de Realengo e por que não, ser específica? – ou explícita –
  Falamos da violência, segurança, educação e não há como descartar a doença, no caso; a esquizofrenia de que – supostamente - sofria o ex-aluno da escola Tasso da Silveira.  Poucas pessoas conhecem a doença, mas não são necessários profundos estudos para se entender que se trata de um problema neurológico, nem tampouco irei gastar parágrafos com complexas explicações. Não obstante isso: http://www.entendendoaesquizofrenia.com.br/conteudo.php?get_id=235para, pra quem tem a curiosidade.
   É relevante afirmar que tal doença não é criminosa; não é a responsável pelo ato terrível dos ex-estudantes: Wellington, do coreano Seung-Hui Cho, de Edmar Freitas e nem de alguns outros que também cometeram atrocidades similares em escolas e que supõe a mídia terem sido acometidos da mesma doença; a esquizofrenia. Se assim fosse, quantos casos não seriam contabilizados? Imaginem cada ser humano que possui a tal doença, cometendo esse tipo de ação? Levando em consideração ser uma doença de complicada percepção, em alguns casos. Sabe-se que nenhum deles apresentava anormalidade, a única “anormalidade” era no máximo a introversão, a timidez, talvez a aparência – pelo que disseram os colegas que estudaram com Wellington – Finalmente chegamos ao Bullying, que também dispensa qualquer explicação. A mídia se encarregou e se encarrega dos detalhes; mas vale lembrar que é algo velho, afinal; vai dizer que você, leitor, nunca teve um apelido pejorativo na escola?
  Chegamos à conclusão de que tudo é fase, mas existem loucos pelo mundo a fora. Pêêeeee! Resposta errada.
  A conclusão é fato: somos diferentes, históricos familiares diferentes, estilos de vida diferentes, a única coisa em comum é a sociedade em que se vive, ainda assim, dividida socioeconomicamente – e toda aquela coisa que a gente estuda sobre a formação do mundo, povos, cultura etc. - Ninguém nasce monstro, tolice querer justificar esses atos de barbárie com doença, falta de segurança ou religião. Podemos sim afirmar que muitas coisas são inatas ao indivíduo, mas quem as desperta é o próprio meio externo, é ele o responsável pelo incentivo e estímulo, seja gradativo ou não.
 Não é preciso ser psicólogo para compreender o sentimento de raiva ou ódio e entender que cada um o canaliza de uma maneira. O mal é latente em cada indivíduo, mas se não há fatores externos que o suscitem ele não se manifestará, isso, de maneira geral.
   Mas pra muitos de nós que não tem paciência pra essa ladainha toda de psicologia, a solução continua sendo uma: a toda soberana educação. Seja ela oferecida pela família ou pela escola. EDUCAÇÃO no sentido único e íntegro de sua palavra. Julgamos-nos soberbamente inteligentes e sabidos,  mas mesmo assim farei um ctrl c + ctrl v do nosso adorável pai dos burros – aí está, cômica e ironicamente um bullying contra o próprio dicionário, aff -:

Educação: sf. 1. Ato ou efeito de educar (-se). 2. Processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral do ser humano. 3. Civilidade, polidez. § educacional adj.”

  Contudo, fica claro, que nesses casos de chacina em escolas, fatores acumulativos e externos contribuíram para as meticulosas atrocidades.
   Talvez em algum momento reconheçamos as tais inversões de valores onde:
 Troca-se família por internet/TV, amigos por trabalho, gente por coisa, educação por arrogância, prevenção por remédio; onde confunde-se medo e receios com individualismos, sinceridade com falta de educação, expressão com agressividade, opinião com preconceito, amizade com interesses, diversão com ofensas, timidez com estranheza, excentricidade com anormalidade, informações com mídia, altruísmo com tolice, proximidade com invasão de privacidade, coração com pedaços de ferro, indivíduos com números, seres humanos com robôs...  E por aí segue a lista de sentidos e significados que são distorcidos.
  Quando se assumirá que é o alicerce que precisa ser restaurado e não o telhado pintado? Quando admitirão o poder existente na família e o poder de uma escola na estruturação de uma criança independente de classe ou raça (raça leia-se como todas as nacionalidades)? O poder do diálogo, da amizade, da boa educação e do respeito?
   Ninguém precisa se tornar santo, perfeitinho, nem muito menos deixar de viver sua própria vida para evitar que novos Wellingtons, Seung-Hui Chos ou Edmares se formem na sociedade.  
  Bem, espero que um dia a gente consiga entender o significado real de base e aprenda a curar um mal pela raiz e não esperar os frutos podres caírem.

                                                                   




                                                                                                   12/04/11